Descrição
A feliz e violenta vida de Maribel Ziga é o livro mais íntimo de Itzia Ziga. Nele, a autora escreve a partir da relação com sua mãe. Antes de mais nada, a violência patriarcal pode ser abordada de muitas formas. Sem dúvida, uma das mais difíceis consiste em se embrenhar pelo difícil tema da violência doméstica. Nesse sentido, o livro de Itziar Ziga é um empreendimento de coragem, no qual a autora se lança em uma viagem que entrelaça histórias pessoais de violência marital e abuso com os aspectos macropolíticos de arranjos patriarcais. Com isso, cria uma forma de falar sobre a violência machista e toda a força que temos que fazer para sair dela. Afinal, nenhuma mulher busca ser agredida e tudo está montado para que custe horrores, até a vida, para que deixem de ser maltratadas.
Primeiramente, Itziar Ziga faz aqui uma declaração de amor a Maribel Ziga, sua mãe e personagem principal do livro. No entanto, mais do que uma memória individualista de uma infância marcada pela violência doméstica, Itziar encontra na história de sua mãe reverberações com outras tantas mulheres. Mais do que isso, encontra na própria vida elementos patriarcais que se repetem, mesmo na vida de mulheres que não apanham de seus parceiros. Dessa forma, Ziga apresenta a leitores de qualquer gênero uma sensível abordagem a elementos de violência embrenhados nas sociedades ocidentais.
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Trecho de A feliz e violenta vida de Maribel Ziga.
“O amor romântico é a cola mágica do patriarcado, senão, a troco de que nós mulheres engoliríamos tanta desvantagem estrutural? Somos socialmente educadas na empatia, no cuidado do outro acima do nosso próprio cuidado e na manutenção do vínculo. E também na violência: pra sermos violentadas, isso sim. Essa ameaça perpétua, que a qualquer momento pode impactar, e muitas vezes impacta, contra cada uma de nós. Nosso gênero é um thriller romântico. Nenhuma mulher escolhe ser maltratada, mas está tudo montado pra que nos custe horrores, inclusive nossa vida, deixarmos de ser. Por que uma garota como minha mãe, tão esperta, tão flamejante, tão cativante, tão bem rodeada, tão querida, tão amorosa, tão atrevida, tão fantástica, tão iluminada, aguentaria tudo aquilo?”
Sobre a autora
Autora de vários livros, Itziar Ziga é uma das expoentes mais radicais do feminismo espanhol. Ou ainda, conforme a definem Paul B. Preciado e Virginie Despentes no prefácio de Devir Cachorra, Ziga uma “é uma mistureba político-cultural: o campo e a cidade, sua mãe e suas colegas, Euskalerria e Catalunya, o melô e o feminismo iraquiano, Judith Butler e Manuela Trasobares, a teoria queer e as oficinas de pantojismo, a cultura trans e as avós putas, Alaska e Benedetti, santa Ágata e a Dulce Neus”
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